6.10.05

Marcos Sá Correia / Para Estudantes de Jornalismo

Copyright No Mínimo 02.10.2005 | Nada mais embaraçoso do que falar a estudantes de jornalismo prestes a entrar no mercado, quando tudo o que o mercado tem a lhes oferecer naquela manhã são páginas e mais páginas de jornal falando do deputado Aldo Rebelo, como se os brasileiros tivessem acordado loucos para saber tudo sobre esse político alagoano que, nas fotografias da véspera, parece que saiu de um arquivo e, nos projetos do presente, acha pior para os costumes nacionais o Halloween que a grife José Dirceu. Será isso que eles querem fazer quando puserem os pés numa redação? Pelo visto, não. Pelo que dizem as pesquisas, é mais provável que deixem até de ler jornais e outras embalagens de notícias que ainda usam papel, como fazem ao redor do mundo cada vez mais pessoas dessa faixa de idade. No ano passado, “The Washington Post”, às voltas com uma queda de 4 mil assinantes por mês, descobriu que os jovens leitores preferiam ciscar os assuntos de seu interesse diretamente no site do jornal ou por tabela, em serviços de busca como o do Google, a comprar o prato feito nas bancas. Isso não quer dizer que a nova geração leia menos, como se supunha no tempo do deputado Aldo Rebelo. Lê até mais do que antes. Ou melhor, como nunca, além de ouvir as rádios que querem na hora que querem, via Podcasting. O diabo é que essa geração aprendeu a escolher os assuntos que lhe interessam, coisa que “uma mera publicação em papel” jamais lhe daria. E assim “suas mãos não ficam mais sujas de tinta”, escreveu na ocasião Adam Penenberg, na revista “Wired”, em artigo agourentamente intitulado “por que os jornais devem mesmo se preocupar”. Nos Estados Unidos, uma pesquisa descobriu há pouco que, dos 18 aos 34 anos, os americanos já pularam a cerca das comunicações. Sem volta, provavelmente. Nessa idade, só 3% ainda catam regularmente notícias em jornais. O público fiel às revistas de informação caiu para 1%. E a TV ficou com 35%. Mas a Internet já levou 46%, naquela faixa da existência em que, diz uma velha lenda do mercado publicitário, os hábitos de consumo se formam para sempre. Por falar em publicitários, tudo indica que acabou a época em que as boas agências podiam garantir aos anunciantes 80% dos americanos com TV ligada, reservando o minuto certo dos intervalos comerciais nos horários nobres das redes CBS, NBC e ABC. Hoje, não dá para contar que eles liguem a televisão na hora em que as emissoras querem. Segundo a Mediamark Research Inc., dos 13 aos 34 anos os americanos passam mais tempo olhando o monitor do PC que a tela da TV. Turbulência à vista, portanto. Não é à toa que na Inglaterra venerandas instituições como “The Times” e “The Guardian” mudaram de cara e tamanho ultimamente, gastando rios de dinheiro para fazer aquilo que os tablóides sempre fizeram – ou seja, encolher na forma para não encolher na circulação. Ou que nos Estados Unidos “The New York Times” pôs seus colunistas para trocar figurinha com os leitores, como num blog pago e de luxo. Essas coisas só acontecem com os outros? Quem dera. No Paraná, em agosto, uma pesquisa do Ibope para a American Chamber of Commerce apurou que em Curitiba e Londrina a Internet bate a TV como fonte de notícia. E no Brasil o número de computadores ligados à rede está longe de ser dos mais altos mas, com cerca de 15 milhões de conexões, já é o dobro da soma de todos os exemplares de jornal publicados diariamente. E, sinal de que aqui também as coisas estão mudando, em toda esta crise do governo Lula, a circulação da imprensa diária ficou mais ou menos onde sempre esteve, ao contrário da TV Senado, por exemplo, que ganhou audiência com a transmissão ao vivo das CPIs. Para os jornais brasileiros, isso provavelmente quer dizer que está na hora de economizar papel com o deputado Aldo Rebelo. Ou que a maré está esvaziando assustadoramente. Mas, para os estudantes que estão a um passo de virar jornalistas numa hora em que as grandes empresas do ramo fecharam ao todo 10 mil vagas desde o começo dos anos 90, o segredo da sobrevivência é fazer como Tilly Smith, aquela inglesa de 10 anos que não se enganou quando viu o mar sumir de uma hora para outra numa praia da Tailândia. Eles têm pela frente um tsunami que vai inundar o mundo com novos meios de comunicação.

Nenhum comentário: