5.6.07

Jornal Nacional, 05/06/2007

Veja aqui:
A edição de hoje do Jornal Nacional começa com a situação absurda a que são submetidas crianças do oeste da Bahia que tentam cursar o ensino fundamental. A reportagem é de Dartagnan Nascimento e Giácomo Mancini. De longe, parece um curral. Mas a cerca de arame farpado protege uma escola. A escola municipal Castro Alves fica no distrito de Água Boa, município de Riachão das Neves, oeste da Bahia, onde o sol determina como os dez alunos de primeira a terceira série arrumam as carteiras. A escola não tem sequer um pote de água para os alunos. A professora Arlete Oliveira recebe menos de um salário mínimo e não reclama. Tem medo que as crianças fiquem sem ter onde estudar. E como toda professora que faz do ensino uma missão, ela tem sonhos. “Que fosse pelo menos uma casinha, com porta, telha, pelo menos isso para dar aula melhor”. Como não há paredes, qualquer movimento chama a atenção dos aluno. “Tudo que passa lá fora eles param para comentar”, diz a professora. No mesmo município, 40 quilômetros depois. A caminhonete leva adolescentes soltos na carroceria aberta e o pior: quem dirige é um menor de idade, sem carteira de motorista. “Que idade você tem?”“Eu? 17”.“Você não tem medo de acontecer um acidente, de machucar essas crianças aí atrás?”“Não”.“Há quanto tempo você faz esse transporte?”“Comecei esse ano”. A mesma caminhonete acabou de deixar mais crianças numa outra escola. Isso mesmo, debaixo dessa lona, à sombra do jatobá, também funciona uma escola municipal: a Herculano Farias. A escola foi criada em 1996 e sempre funcionou debaixo de árvores. A professora Elizângela Santos está aqui há três anos. Ensina crianças de primeira a quarta série. Não tem mesa, nem lista de presença, que é feita num caderno comum, e as tarefas são corrigidas no único banco que sobrou e de costas para os alunos. As nove crianças que chegam primeiro, ocupam as carteiras. Quem chega depois, inclusive os pequeninos da pré-escola, tem que sentar em tocos de árvores ou dividir os bancos improvisados. Cada um escreve do jeito que dá e ninguém aprende como deveria. “É quente demais, dá dor de cabeça, dor de ouvido. Assim não dá pra aprender direito. Melhor seria dentro de um colégio”, reclama a estudante Daniela Gomes Para a professora, o mais triste é não ter uma parede sequer para prender os trabalhos dos alunos. “Todos os colégios aqui têm. Nós estamos sempre embaixo da lona”, diz a professora Elizângela. O município tem até uma fábrica de carteiras, mas até hoje elas não chegaram às crianças das escolas de lona. O secretário de Educação, Manoel Barbosa, disse que já recebeu as duas assim “Escola existe, não o prédio. Eu considero que lá funciona uma escola, porque tem professor e aluno lá. Lá está faltando espaço físico”. Ele promete construir as salas de aula até o fim do ano, mas até lá, as crianças vão continuar debaixo de lona, sob o sol quente e sem direito a uma educação de qualidade. Esses dois espaços debaixo de lonas estão incluídos no Programa Dinheiro Direto na Escola, o PDDE, do Governo Federal. O secretário municipal de Educação de Riachão das Neves confirmou que recebeu a verba. Disse que comprou equipamentos, como geladeria e fogão, que serão usado assim que as paredes forem erguidas.

5 comentários:

Patrick Gleber disse...

Giácomo,

Parabéns pela reportagem. Parabéns pela maneira contundente com que "enfrentou" as justificativas do secretário.

Giácomo, gostaria de manter contato com você por e-mail. Sou de Cajazeiras, interior da Paraíba. Meu interesse em manter contato é para lhe sugerir uma pauta. Presumo que você tenha bons contatos com o pessoal da Globo Nordeste. Vamos ao ocorrido. Tenho escutado com alguma freqüência que estaria sendo vendido na Farmácia Popular, de minha cidade, medicamente sem a receita médica. O caso realmente é verdadeiro. Meu pai semanas atrás foi até a farmácia com a receita médica comprar o medicamente Amoxicilina. Chegando lá a atendente informou que não havia. No dia seguinte minha mãe foi novamente até o posto da Farmácia Popular se informar quando estaria previsto a chegada do Amoxilicina. Pra surpresa dela a atendente informou que o medicamente não estava em falta. Aí deu-se o ocorrido. Minha mãe disse que voltaria com a receita mas a atendente afirmou que não havia necessidade para comprar. Mais: ofereceu ainda outros medicamente sem receita médica.

A Farmácia Popular é um programa do governo federal para que se venda, com preços mais baixos, remédios à população pobre. Essa denúncia que faço precisa ser levada em frente. Estão desviando o dinheiro que é publico para beneficiar a alguns.

Fico no aguardo de seu contato.

Patrick Gleber
patrickgleber@hotmail.com
(83) 8827-4551
(83) 8854-8254

Anônimo disse...

Oi, Giacomo! Dizer que a gente fica indignado é pouco. A situação é tão absurda que, mesmo sabendo da urgência em construir uma escola, levantar paredes, salas de aula, banheiros etc., o energúmeno do secretário de educação recebe verba do Governo Federal e compra fogão e geladeira. Será que não existe alguém na Secretaria de Educação ou na Câmara de Vereadores que possa explicar pra esse infeliz que é preciso saber priorizar. Ou será que ele recebeu uma "comissão" nesse negócio????

Parabéns pela reportagem.

CarolBorne disse...

Assisti à reportagem e, só pra variar, adorei! Mas eu não vou ficar aqui enchendo a tua bola, não, nem vou dizer que teu nome está entre os meus ídolos do jornalismo nacional, viu?
Dá uma passadinha lá na minha Janela, que tá de cara nova!

Um beijo de tiete, direto de Porto Alegre!

Ale disse...

Giácomo, fiquei muito feliz ao encontrar sua reportagem, da qual tinha uma pequena lembrança, durante uma pesquisa que estava realizando sobre a qualidade da educação no Brasil. Esta pesquisa servirá para um trabalho multidisciplinar da Faculdade o qual incluirá uma encenação teatral e gostei muito da forma realista com que abordou um dos maiores desafios brasileiros que é a má qualidade da educação oferecida aos nordestinos.
Parabéns e se puder apontar outras reportagens suas ou de colegas seus referentes a essa temática ficarei muito grata.
Um abraço
Alessandra Fragoso - Colombo/PR

Unknown disse...

Nasci em Bsb,mas tenho raizes Riachao das Neves, e o que posso dizer é que essa denuncia foi apenas uma jogada politica. Por que a Globo nao volta la hoje e veja o que o atual prefeito que denunciou essa materia está fazendo. Nao paga o salario dos empreg. da pref. uns 7 meses, e sem falar na agua suja de um buraco q o povo tem q beber e fz comida. E esses idiotas q nao conhecem a realidade d municipio ficam ai so elogiando a globo. Vcs tem depois daquela materia tinham q passar a fiscalizar todos os absurdos muito piores do q aquele por todo Brasil. Mas voces so mostram o q vcs querem. Vcs manipulam o País.